domingo, 20 de novembro de 2011

Cadê a tinta vermelha?


Slavoj Žižek visitou a Liberty Plaza, em Nova Iorque, para falar ao acampamento de manifestantes do movimento Occupy Wall Street, que vem protestando contra a crise financeira e o poder econômico norte-americano desde o início de setembro deste ano. Estes são trechos de seu discurso.

Não se apaixonem por si mesmos, nem pelo momento agradável que estamos tendo aqui. Carnavais custam muito pouco – o verdadeiro teste de seu valor é o que permanece no dia seguinte, ou a maneira como nossa vida normal e cotidiana será modificada. Apaixone-se pelo trabalho duro e paciente – somos o início, não o fim...

Qual organização social pode substituir o capitalismo vigente? De quais tipos de líderes nós precisamos? 

Mas a razão de estarmos reunidos é o fato de já termos tido o bastante de um mundo onde reciclar latas de Coca-Cola, dar alguns dólares para a caridade ou comprar um cappuccino da Starbucks que tem 1% da renda revertida para problemas do Terceiro Mundo é o suficiente para nos fazer sentir bem.

Depois de terceirizar o trabalho, depois de terceirizar a tortura, depois que as agências matrimoniais começaram a terceirizar até nossos encontros, é que percebemos que, há muito tempo, também permitimos que nossos engajamentos políticos sejam terceirizados – mas agora nós os queremos de volta...

Sim, somos violentos, mas somente no mesmo sentido em que Mahatma Gandhi foi violento. Somos violentos porque queremos dar um basta no modo como as coisas andam – mas o que significa essa violência puramente simbólica quando comparada à violência necessária para sustentar o funcionamento constante do sistema capitalista global?
O sucesso do capitalismo chinês liderado pelo comunismo é um sinal abominável de que o casamento entre o capitalismo e a democracia está próximo do divórcio. Nós somos comunistas em um sentido apenas: nós nos importamos com os bens comuns – os da natureza, do conhecimento – que estão ameaçados pelo sistema...

Não estamos destruindo nada; somos apenas testemunhas de como o sistema está gradualmente destruindo a si próprio...

 Hoje, o possível e o impossível são dispostos de maneira estranha. Nos domínios da liberdade pessoal e da tecnologia científica, o impossível está se tornando cada vez mais possível (ou pelo menos é o que nos dizem): “nada é impossível”, podemos ter sexo em suas mais perversas variações; arquivos inteiros de músicas, filmes e seriados de TV estão disponíveis para download; a viagem espacial está à venda para quem tiver dinheiro; podemos melhorar nossas habilidades físicas e psíquicas por meio de intervenções no genoma, e até mesmo realizar o sonho tecnognóstico de atingir a imortalidade transformando nossa identidade em um programa de computador.

Em uma velha piada da antiga República Democrática Alemã, um trabalhador alemão consegue um emprego na Sibéria; sabendo que todas as suas correspondências serão lidas pelos censores, ele diz para os amigos: “Vamos combinar um código: se vocês receberem uma carta minha escrita com tinta azul, ela é verdadeira; se a tinta for vermelha, é falsa”. Depois de um mês, os amigos receberam a primeira carta, escrita em azul: “Tudo é uma maravilha por aqui: os estoques estão cheios, a comida é abundante, os apartamentos são amplos e aquecidos, os cinemas exibem filmes ocidentais, há mulheres lindas prontas para um romance – a única coisa que não temos é tinta vermelha.” 

...nós nos “sentimos livres” porque somos desprovidos da linguagem para articular nossa falta de liberdade...

...hoje, todos os principais termos que usamos para designar o conflito atual – “guerra ao terror”, “democracia e liberdade”, “direitos humanos” etc. etc. – são termos FALSOS que mistificam nossa percepção da situação em vez de permitir que pensemos nela. Você, que está aqui presente, está dando a todos nós tinta vermelha.
Cadê nossa tinta vermelha?
Precisamos construí-la pois o sistema não dará oportunidade para que isso ocorra. Precisamos nos impor diante das aparências que querem nos forçar a acreditar.
O capitalismo é um sistema financeiro agressivo, ao qual estamos habituados, já que vivemos imerso a ele, já que ele faz parte de nossa rotina. Vivemos por muito tempo sofrendo e aceitando todas as mazelas que esse sistema nos impôs, muitos ainda aceitam, engolem a seco, mas existe uma parte de pessoas que além de não aceitar estão trabalhando para melhorar as questões que assolam o planeta, é uma questão global, as consequências físicas, sociais, ambientais dessa conduta, dessa insanidade, está presente em boa parte do países. Até países que se diziam ricos estão tomando do próprio veneno, a crise bancária chegou por lá, mas a diferença entre nosso país e um pois rico é que nó sabemos lidar com a crise financeira, diferentemente de quem está experimentando – a somente agora. Se serve de consolo vou dizer que tudo tem sua primeira vez e com o tempo se aprende. Não que eu esteja aqui desejando que a crise financeira se estabeleça por mais tempo nos países ricos, mas se trata de dizer que” Há males que vem para bem”,  se nós sobrevivemos, eles também sobreviverão todos, e que se aprende com as situações difíceis.
O que os manifestantes do “Occupy Wall” querem é uma nova consciência, a consciência de uma não aceitação desse sistema, eles estão exercendo uma práxis social que é a ação de transformar uma sociedade e incentivar uma reflexão. 






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